Mosteiro Dominicano feminino de Jesus ou "convento de Santa Joana", hoje Museu de Aveiro:
Museu de Aveiro, antigo Mosteiro de Jesus.
"Em 1458, um grupo de fidalgas, coordenado por D. Brites Leitoa e suas duas filhas, recolheu-se em casa próxima do convento masculino de S. Domingos, decidindo seguir a regra dominicana. Dois anos depois, D. Mécia Pereira, irmã do 1º Conde da Feira, viúva, juntou-se-lhes e com os rendimentos das recolhidas deram início à construção cuja 1ª pedra foi lançada por D. Afonso V, em 15 de Janeiro de 1462. A infanta D. Joana, entretanto, optou também por este pequeno mosteiro de Jesus, aqui morrendo em 12 de Maio de 1490, com fama de santidade. Com as professas e com os rendimentos da princesa a par da benemerência local, o mosteiro foi crescendo em área e em recolhidas, tornando-se uma edificação de certa valia nacional, sobretudo pela talha (especialmente na igreja) e pela azulejaria (sobretudo nos espaços e capelas que envolvem o claustro), que o seu interior comporta. Extintas as ordens religiosas masculinas em 1834, mantinham-se as femininas até à morte da úlltima professa, como aqui aconteceu em 1874, passando então para o Estado.
Neste caso, porém, com aval do governo, fundou-se a Real Irmandade de Santa Joana que veio a receber as instalações e as administrou até que, em 1911, foi criado o Museu Regional de Aveiro e aqui se instalou, beneficiando de preciosas colecções de arte e da riqueza de arquitectura do imóvel. Destas, regista-se a pintura dos séculos XVI-XVIII, a paramentaria e a escultura. Na arquitectura, a par com a talha e a azulejaria que nela se integram, destaca-se a "logia" de acesso à igreja, certamente da última década do século XVI (e desta época há outros benefícios), o claustro maneirista que veio dar unidade interna à construção e a fachada barroca, da Segunda metade de Setecentos. Diversas arcas tumulares merecem visita atenta, sendo de notar entre elas o túmulo de João de Albuquerque (século XV) e o da Infanta D. Joana (princípio do século XVIII), obra do escultor João Antunes que obrigou a reconfigurar o local onde se encontra.
Mas não faltam motivos de interesse neste Museu, justamente considerado um dos melhores do país, sobretudo na perspectiva da arte religiosa."- http://aveirana.doc.ua.pt/mosteirojesus.htm
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Igreja de Jesus:
A igreja de Jesus foi fundada em 1463, data da fundação do Convento com o mesmo nome. O seu nome deve-se à oferta de uma imagem de Cristo crucificado às freiras dominicanas pelo religioso Francisco Juzarte, imagem essa hoje exposta no Coro alto do Museu de Aveiro.A decoração actual da igreja resultou de mais de duzentos anos de remodelações, testemunhando os diversos períodos artísticos que percorre. No entanto é sobretudo a arte barroca que predomina em todo o espaço sagrado.Na capela – mor, parte mais importante da igreja, contam-se, através de pinturas e de painéis de azulejo, os passos mais importantes da vida da Princesa Santa Joana.Como nos restantes conventos femininos, a porta principal da igreja é lateral, já que no topo da igreja se localizam os coros alto e baixo. Em frente à porta situa-se, como habitualmente, o altar consagrado ao Santo de maior devoção da casa, no caso, a Princesa Santa Joana. Os outros dois altares da nave da igreja foram dedicados a S. Domingos e a Nª Sra. do Rosário.O púlpito, pequena varanda colocada junto à porta principal da Igreja, facilitava a pregação tornando-a mais acessível a um grande número de ouvintes. Só o sermão era feito a partir do púlpito e em Português, já que a restante missa era dada em latim a partir do altar-mor. Em frente ao púlpito destaca-se um órgão monumental, datado de 1739. O teclado escondido no interior do órgão permitia que a mestra organista não fosse vista pelos fiéis que frequentavam a igreja, conforme exigência da regra de clausura.Nas grades que fecham o topo da nave destacam-se o comungatório (abertura central) e os confessionários (aberturas laterais). Cortinas corridas sobre as grades impediam que houvesse qualquer contacto visual entre as pessoas que frequentavam a Igreja e as freiras que assistiam à missa no coro alto.O tecto da nave da igreja, revestido a pinturas, conta a História de S. Domingos, Santo fundador da Ordem Dominicana, à qual pertencia o Convento de Jesus.
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Na capela-mor da igreja destacam-se pinturas e painéis de azulejo que contam os passos mais importantes da vida da Princesa Joana. Eis algumas das cenas retratadas: Aparecimento de um Anjo à Princesa (o anjo tranquiliza a Princesa dizendo-lhe que o casamento que o embaixador lhe vem propor não será concretizado. As duas coroas no chão representam os dois casamentos já recusados); Saída da Princesa do paço real para ingressar no Convento; Conversa da Princesa com D. Clara da Silva (nesta conversa a religiosa dá a conhecer à Princesa a santidade da vida no Convento de Jesus, o que a vai motivar a optar por este Convento para se recolher); Entrada da Princesa D. Joana no Convento de Jesus; Cerimónia do corte de cabelo (esta cerimónia realizada na altura da tomada do hábito religioso simboliza a abdicação da vida mundana e da vaidade); Procissão do enterro da Princesa (a este episódio se associa a lenda do funeral da Santa Joana); Visita do Irmão da Princesa, D. João II, ao Convento de Jesus (D. João, na portaria do convento, tenta demover a irmã a ingressar na vida conventual); Morte de Santa Joana (assistida pelas religiosas no Convento, a Princesa faz a passagem da sua vida terrena para a celeste, onde é esperada por Santos e coros de Anjos).
No retábulo da Capela-Mor destacam-se as imagens de S. Vicente Ferrer e de S. Tomás de Aquino e, num nível superior, as imagens mais pequenas de S. Francisco e de S. Domingos simbolizando as Ordens mendicantes dos dominicanos e dos franciscanos. Estas ordens, criadas no séc. XIII, chamavam-se mendicantes porque viviam exclusivamente da caridade. O voto de pobreza era a sua característica.
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Coro-alto:
No Convento de Jesus existiu desde cedo um coro duplo (coro alto e coro baixo), embora tal situação não suceda com frequência nas comunidades femininas. Contudo, as condições de extrema humidade do edifício, muitas vezes responsável pelo alagamento da igreja e do coro-baixo obrigaram, a que as freiras tivessem muitas vezes de assistir à missa e praticar outros actos religiosos a partir do coro-alto.Só pós ter sofrido obras de aumento e remodelação no séc. XVIII, o coro alto passou a ter uma aparência muito semelhante à actual. De formato alongado, apresenta um dos topos com gradeamento a fim de que se pudesse ver a igreja, mas tal só acontecia quando não estava a ser rezada a missa para a população da Vila de Aveiro, caso contrário, as grades eram tapadas por grandes reposteiros vermelhos que impediam as freiras de serem vistas. De ambos os lados da sala corre um cadeiral em frente do qual se colocavam as estantes de leitura (atris) e onde eram colocados os pesados livros de cantochão (livros de canto). Sobre o cadeiral figuravam os retratos dos principais santos da ordem dominicana entre os quais se encontrava a Princesa Santa Joana.
Nesta sala podes ver o Crucifixo que deu o nome ao convento no séc. XV. Quando decorreram as obras de remodelação deste espaço, passados mais de duzentos anos, esse Cristo foi temporariamente retirado do seu lugar para que artistas acrescentassem as imagens de Maria, de Maria Madalena e do apóstolo S. João. Só então o crucifixo voltou a ser colocado no meio das figuras ficando completa a cena da morte de Cristo na cruz.
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Coro baixo, Sala do Túmulo:
Sala que existia em todos os conventos femininos, e que se situava no seguimento da igreja. Estes dois espaços eram separados por grades, sendo o contacto visual igualmente impedido por grandes cortinas. Ao contrário da igreja, utilizada pela população em geral, o Coro Baixo era um espaço restrito às religiosas. Aqui comungavam através da abertura central das grades, o comungatório, e se confessavam através dos confessionários laterais. Geralmente os conventos tinham por cima desta sala uma outra designada por Coro Alto, onde as freiras se reuniam para rezar e para assistir à missa.
Nesta sala foi sepultada, junto do comungatório e em campa rasa, a Princesa–Infanta D. Joana, filha de D. Afonso V. Após a beatificação da Princesa (1693) o rei D. Pedro II mandou construir um novo túmulo, desenhado pelo arquitecto régio João Antunes. Para o receber a sala esteve em obras cerca de 12 anos. Tudo passou a combinar com esta nova peça: o pavimento de mármore branco, rosa e negro, os apainelados das paredes e os mármores do tumulo. Este, em forma de arca, foi decorado como se fosse um enorme “puzzle” de pequenas peças de mármores de diversas cores, trabalho de artistas portugueses, datado de 1711, foi colocado no centro do Coro-Baixo.
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Claustro:
A seguir à igreja, o claustro constituía o espaço mais significativo do convento. À volta deste espaço fechado, geralmente de planta quadrangular e com colunas a toda a volta, dispunham-se as principais capelas e salas do convento. O espaço central era por vezes ajardinado, simbolizando o Jardim do Paraíso. Era ainda neste espaço que muitas vezes se cultivavam plantas hortícolas, árvores de fruto e plantas medicinais para a botica (farmácia). O claustro constituía um local de meditação, de oração e de leitura. Era também um espaço para procissões (já que as freiras não podiam sair do convento para participar nas procissões públicas) e de enterramento. Por todos estes motivos obrigava a formas especiais de comportamento, sendo de realçar a prática do silêncio.
O claustro do Convento de Jesus nem sempre teve a mesma aparência. A construção inicial, só com um piso, apresentava no pátio interior com um poço central, substituído posteriormente por um tanque com lavadouro, ao qual foi acrescentado no séc. XVII o actual obelisco. Só nessa altura foi levantado o claustro superior até aí inexistente. Em volta do claustro desde cedo se consagraram capelas aos santos de maior devoção das freiras, nomeadamente S. Simão, S. João Baptista, S. João Evangelista e a Sagrada Família. As galerias do claustro davam ainda acesso ao refeitório, à sala do lavabo, ao coro baixo e a ambas as salas do capítulo.
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Capelas Claustrais: As capelas localizadas no claustro contavam-se entre as mais importantes e ricas do convento, à semelhança do que sucedia noutros conventos. Tal como as restantes capelas espalhadas pelo edifício, permitiam um culto mais recatado, pelo que funcionavam como locais de oração e entoação de cânticos. A sua construção e posterior decoração com revestimentos azulejares, retábulos, pinturas, entre outros, estava ligada à aplicação de dotes das religiosas ou de pessoas exteriores ao convento. O mesmo acontecia com as alfaias em metais nobres e paramentos utilizados nas capelas.Cada capela era entregue a uma mordoma que cuidava da sua manutenção e arranjo, de acordo com o calendário litúrgico referente ao santo aí invocado. São Simão, S. João Evangelista, S. João Baptista, Nossa Senhora da Assunção (sala do Capítulo Velho), Senhor da Coluna (sala do Capítulo Novo) e a Jesus, Maria e José eram as seis capelas distribuidas em volta do claustro.
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Sala do Capítulo:
A sala do Capítulo ligava-se a actos de extrema importância para a comunidade religiosa, talvez por isso fosse habitualmente uma das salas mais ricas dos conventos. O capítulo do Convento de Jesus, situado no claustro, apresentava o tecto repleto de pinturas referentes a Nossa Senhora da Assunção, sendo estas emolduradas por talha dourada. Não se sabe ao certo como seriam as paredes originais, sabe-se, no entanto, que seria uma das capelas mais ricas do claustro. Aqui se tomavam as decisões administrativas sobre a posse, compra, venda e administração dos bens conventuais, se recebiam as noviças e faziam as eleições para a nomeação da prioresa. Para além disso liam-se as Constituições do convento (regras) e as leituras próprias do calendário litúrgico. Também nesta sala se repreendiam e castigavam as faltosas. Era ainda nesta sala que se dava sepultura às freiras mais importantes, pelo que aí foram sepultadas as fundadoras do convento. Tal como acontecia noutros conventos, no convento de Jesus existia uma outra sala do Capítulo, também no claustro, destinava às noviças que faziam a sua vida separada da restante comunidade.
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Refeitório:
O refeitório, apesar de ser uma zona comum, obrigava ao silêncio. Chamadas pela sacristã a toque do sino, as freiras dirigiam-se ao lavabo, onde lavavam as mãos preparando-se para a refeição. Em seguida entravam no refeitório, sentando-se em mesas corridas, de costas para a parede e de frente umas para as outras. No topo da sala situava-se a mesa da prioresa, que presidia à refeição. No topo oposto da sala uma abertura fazia a comunicação para uma pequena sala, o “debilium” onde comiam as religiosas debilitadas por algum mau estar. Rezada a oração, as servidoras começavam a servir os alimentos partindo do extremo da sala até à mesa da prioresa. Durante as refeições era guardado o silêncio. Uma das freiras subia à tribuna da leitura, lendo salmos ou páginas da regra de forma a alimentar simultaneamente o corpo e o espírito. As servidoras comiam numa mesa à parte, apesar da refeição ser idêntica para todas. Os caldos eram sempre sem carne, sendo conveniente que se comessem dois caldos por dia. A sala do refeitório é toda revestida a azulejo de padrão azul e branco do séc. XVIII e teria apenas um quadro representando a Última ceia de Cristo na parede por detrás da mesa da prioresa.
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Sala de Lavor, Capela da Santa Joana:
Este espaço, criado desde as primeiras horas do convento, foi um lugar de trabalho onde as freiras se reuniam para fazerem bordados e outros lavores.Em 1489 a função desta sala alterou-se pois a Princesa Dona Joana, que então vivia no Convento, adoeceu tornando-se necessário mudar os seus aposentos para uma divisão maior onde pudesse receber as visitas e onde estivesse mais perto do coro alto para assistir à missa. Nessa altura desmontaram-se os teares e bastidores e foi transformada em quarto, assim permanecendo até à sua morte a 12 de Maio de 1490.Posteriormente, já nos séculos XVII e XVIII, converteu-se em capela dedicada à Princesa, tendo por isso sido revestida a talha dourada e telas pintadas que descrevem os momentos mais significativos da sua vida. Hoje, esta capela guarda também as relíquias ligadas à Princesa Santa Joana, em especial uma madeixa do seu cabelo e parte do hábito que usou enquanto viveu no convento.
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Botica:
A botica (que hoje designaríamos por farmácia) foi sempre importante no quotidiano conventual. Funcionava como apoio à enfermaria o que, no caso caso do Convento de Jesus, aconteceu desde o século XV.Os preparados (remédios e unguentos feitos à base pós, sucos de raízes e de flores, de ervas e de frutos) eram preparados pela freira boticária, e destinavam-se não só às religiosas mas também a ser vendidos ou dados à população exterior. Apenas a freira boticária era responsável pela botica, uma vez que essa tarefa exigia grandes conhecimentos. Por essa mesma razão, era das poucas ocupações conventuais que não eram rotativas entre as restantes freiras.O actual armário de farmácia conventual integra várias prateleiras com vasos e potes de faiança, onde eram guardados os preparados, e uma série de gavetas alinhadas com a identificação do tipo de planta, de raiz ou semente que aí se guardava. Expõem-se ainda livros de receitas, instrumentos, pesos e medidas e almofarizes que eram usados na preparação de medicamentos. Ao centro do armário destaca-se uma escultura de São Simão, santo eleito desde cedo como protector do convento.
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Enfermaria:
A enfermaria encontrava-se afastada das principais dependências do convento, ocupando zonas soalheiras e arejadas do edifício, a fim de que o perigo de contágios e a falta de sossego fossem evitados. Perto da enfermaria situava-se o armário da botica onde eram guardadas as ervas e outros ingredientes medicinais e manipuladas as mezinhas e unguentos. As doentes tinham tratamento especial consoante a gravidade da doença e o estado de fraqueza, podendo inclusivamente comer refeições com carne e deitar-se em colchões mais macios.Procedimento corrente era a realização de sangrias quatro vezes ao ano (em Setembro, no Natal, depois da Páscoa e na festa de S. João Baptista).
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Cartório:
O cartório, existente em grande parte dos conventos, era o local onde se elaboravam e guardavam todos os documentos relativos à vida administrativa do convento, nomeadamente ao arrendamento de propriedades, compra e venda de terras, foros, privilégios reais, etc. A responsável por esta dependência era a escrivã.
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Ver:http://www.eraumavezemaveiro.com/index.php?ID=230
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Museu de Aveiro, inv. nº 4/A
descrição: Cristo de pé, em corpo inteiro. Túnica branca, manto verde ornado de pedraria no bordo. Segura na mão esquerda um livro aberto, na mão direita, um báculo terminado em cruz. Na zona inferior, freiras dominicanas, de joelhos aos pés de Cristo e de mãos postas. Chão ladrilhado. Como fundo, o interior de um edifício, com arcadas interiores e duas janelas, através das quais se vê a paisagem.
historial: A tábua foi oferecida pelos segundos Condes de Abrantes à sua filha D. Brites de Noronha, aquando a sua profissão no Mosteiro de Jesus (1488), ostentando as suas armas na face anterior dos volantes. Poderá tratar-se também de uma oferta do Bispo-Conde D. Jorge de Almeida, tio de D. Brites.
- da ficha do Museu, in: http://www.matriznet.ipmuseus.pt/ipm/MWBINT/MWBINT00.asp
Bibllioteca
Ver: http://www.spanport.ucsb.edu/projects/ehumanista/volumes/volume_08/articles/9%20Cristina%20Sobral%20Article.pdf.
04/10/07
Jesus, de AVEIRO
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