«[Maria Madalena] vê então Jesus, mas sem o reconhecer e mesmo sem o
olhar, porque não sonha senão naquele querido corpo, que ela queria ungir com
um unguento precioso e que estaria nas mãos de profanadores. Jesus diz-lhe:
“Mulher, porque choras? A quem procuras?” Ela pensa que é o guarda do jardim,
um guarda estrangeiro, talvez infiel, que devia estar ao corrente do sucedido,
que deveria compreender a sua inquietação: “Se foste tu que o levaste, diz-me
onde o puseste, e eu irei buscá-lo.” Ela tinha vindo sem se preocupar com a
pedra! Não quer mais nada senão a ele, mas qué-lo. Então ouve uma voz que lhe
fala ao coração e lhe abre os olhos e que lhe diz o nome familiar na língua
materna: “Mariam!” Logo em seguida o grito: “Rabuni” – meu Mestre – e já
Madalena se encontra aos pés de Jesus, chorando ainda, mas de alegria.
Encontra-se com gosto nesse lugar e quer permanecer ali, prolongando as
efusões do seu amor. Mas este já não é o tempo das lágrimas da pecadora
derramados sobre os pés do Salvador. Jesus pertence ao mundo do alto. Se ele
ainda não subiu para o Pai, não tardará; e encarrega-a de advertir disso os
seus discípulos. Este parece ser o sentido destas palavras. “Não me detenhas,
pois ainda não subi pra o (meu) Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes:
subo par ao meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.”
Desde aquele momento Maria Madalena foi consagrada apóstola dos
apóstolos. Ela obedece como fazem os que se separam da conversação com o seu
Mestre para irem levar a boa nova: “Eu vi o Senhor!”»
– Pe. Frei Marie-Joseph LAGRANGE OP, L’Évangile de Jésus-Christ, Paris 1954, pp. 650-651 [tradução de Frei
António-José de ALMEIDA OP, in Laicado
Dominicano, ano XVII (1991), nº
206 (Julho), p. 2b.]